Investigado na ‘Calvário’ confirma esquema de desvio de verbas e pagamento de propinas na PB

19/12/2019
Daniel Gomes destacou a influência política que a deputada Estela Bezerra (PSB) tinha com a direção das OSs que administravam os hospitais paraibanos. (Reprodução JPB2JP)
Daniel Gomes destacou a influência política que a deputada Estela Bezerra (PSB) tinha com a direção das OSs que administravam os hospitais paraibanos. (Reprodução JPB2JP)
Daniel Gomes, um dos investigados da Operação Calvário, confirmou ao Ministério Público como atuava o suposto esquema de distribuição de propinas e desvio de verbas nos contratos da saúde, na Paraíba. Ele é um dos dirigentes da Cruz Vermelha, organização social, que também é investigada pela “Operação Calvário – Juízo Final”, deflagrada na terça-feira (17).

Em nota, a Cruz Vermelha disse Daniel Gomes não era diretor da instituição, mas conselheiro nacional. Alegou ainda que também foi vítima da suposta organização criminosa junto com o sistema público.

A ação investiga a organização criminosa suspeita de desviar R$134,2 milhões de serviços de saúde e educação. Daniel é considerado um dos chefes da organização criminosa e foi preso na primeira fase da Operação Calvário.

A investigação identificou fraudes em procedimentos licitatórios e em concurso público, além de corrupção e financiamento de campanhas de agentes políticos e superfaturamento em equipamentos, serviços e medicamentos.

Segundo a "Operação Calvário - Juízo Final", do valor total desviado, mais de R$ 120 milhões foram destinados a agentes políticos e às campanhas eleitorais de 2010, 2014 e 2018.

Em um dos trechos da conversa que Daniel teve com investigadores, ele reforçou o conteúdo da apuração e a existência do esquema.

  • MP: [...] pagamento de propina para contratação da OS para gestão do Hospital Metropolitano José Maria Pires e do pagamento de propina de 10% dos valores provisionados para a compra de equipamentos. O senhor ratifica integralmente?
  • Daniel: ratifico integralmente.

Em outro trecho, ele destacou a influência política que a deputada Estela Bezerra (PSB) tinha com a direção das OSs que administravam os hospitais paraibanos. Ele relata que nomeou, a pedido da deputada, a chefe de gabinete dela como secretária-geral da Cruz Vermelha na Paraíba.

De acordo com Daniel, mesmo no novo cargo, a secretária de Estela foi mantida na chefia de gabinete e devolvia o salário dela para a parlamentar.

  • Daniel: eu recebi indicação da Livânia Farias e da Estela pra contratação da Maiara. A Maiara era chefe de gabinete da Estela. E quando eu contratei a Maiara era pra ser secretária-geral da Cruz Vermelha da Paraíba […] Tinha que preencher a lacuna paraibana com um presidente atuante e eu fiz o convite pra Maiara. A Maiara aceitou […] quando isso aconteceu ela veio conversar comigo e disse que tinha um problema, mas talvez podia ser uma solução ao mesmo tempo. ‘Eu continuo como chefe de gabinete da deputada e devolvendo o salário pra ela todos os meses. Teria algum problema de continuar assim como presidente, já que presidente, efetivamente, não tem salário? Você me pagaria o valor que você me paga‘ [...] não vi nenhum problema.

Estela Bezerra disse à TV Cabo Branco que se pronunciará sobre o caso através de uma entrevista coletiva porque ainda não se inteirou sobre a situação.

Já em outras gravações entregues por Daniel ao Ministério Público, ele comenta o projeto do grupo de passar a gestão da saúde do Conde, no Litoral Sul, para uma organização social.

  • Daniel: no caso do Conde, por exemplo, a gente remodelando. Ricardo deu uma sugestão que a gente não pegasse, e ideia dela, e a gente discutiu com a Márcia, da gente assumir tudo. Mas de fato, ela vai tomar muita pancada, se for passar a saúde inteira para OS. Seria muito ruim. O que é que a gente decidiu. Deixa a atenção básica, as equipes de saúde na família com ela, que é basicamente mão de obra dela e a gente vai dar apoio pra eles (…) e a gente assumiria a policlínica.
Do G1PB



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