Light Phone, o celular minimalista para quem quer desconectar

04/10/2020
Celular cabe, literalmente, na palma da mão (Tamires Vitorio/Exame)
Celular cabe, literalmente, na palma da mão (Tamires Vitorio/Exame)

Light Phone II é um celular que, entre outras coisas, ajuda os usuários a fazer um detox completo (ou quase) de todas as redes sociais e da loucura a qual somos inseridos uma vez que fazemos parte desse universo. Não, a ideia não é que a pessoa abandone de vez o seu smartphone e fuja 100% do Instagram, do WhatsApp do Facebook ou do Twitter — mas, sim, que aprenda a, pelo menos um pouco, evitar conferir a tela do seu celular de cinco em cinco segundos para ver se há alguma notificação nova.

Aceitei o desafio de ficar pelo menos um final de semana utilizando o Light Phone II, sem acesso nenhum às redes sociais.

Primeiras (e segundas, e terceiras…) impressões

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A caixa do celular é bastante bonita e minimalista. Toda reciclável, ela imita um livro que, quando aberto, mostra um celular pequeno o bastante para quase passar despercebido — quase. Para evitar o desperdício de papel, o manual do usuário fica em uma das abas do papelão da caixa. Quando fechada, na parte de trás, o slogan da marca é gritante: “um telefone para humanos“. Nela também vem o carregador, padrão para celulares com o sistema operacional Android, do Google, e Kindle, entre outros aparelhos (com a entrada MicroUSB). A entrada do fone do dispositivo é P2, mas ele não vem na caixa. Como quase todo celular, é pedido que o usuário realize uma recarga inicial — que é bastante rápida, exatamente pelo minimalismo do celular (e a carga dura cerca de três dias).

Para começar, é preciso inserir um micro chip SD. Depois disso, logar em uma rede WiFi e cadastrar o número que será utilizado no celular. Tudo muito simples. Feito isso, já é possível usar as funções do dispositivo que são: enviar mensagens, fazer ligações, utilizar a calculadora e ver o horário e o dia. Só isso.

À primeira vista, o celular parece bastante um MP4 dos anos 2000. Bastante compacto, ocupa a palma de uma mão mão e, quando comparado ao iPhone 11, parece uma miniatura ou um celular de brinquedo. A tela tem uma resolução simples e é tudo preto e branco — se o leitor estiver acostumado a usar o Kindle, não vai estranhar tanto assim, uma vez que a tecnologia do display do Light Phone II é a mesma do leitor de livros eletrônico da Amazon, embora de menor qualidade.

O que me incomodou (talvez porque comecei a usar óculos recentemente) foi o fato de que as letras parecem um tanto quanto borradas e que a iluminação não parece vir exatamente de dentro do celular — é como usar uma lanterna em um Kindle sem luz.

O ideal é deixar a iluminação desligada, mas isso não é nem um pouco funcional à noite. A luz do celular também “vaza” em torno da tela, o que pode indicar que o material utilizado não é grosso o suficiente para evitar que isso ocorra. O dispositivo também tem a opção de modo escuro, mas não bom o suficiente para compensar a iluminação mais ou menos precária.

No primeiro dia, enviar mensagens foi uma tarefa bastante complicada. Não só porque a tela é pequena e o teclado também, ou porque eu tenho dedos compridos, mas um pouco porque eu já estou acostumada às telas dos smartphones modernos. Outro ponto é que ele não é tão responsivo assim — demora um pouco para começar a funcionar, para digitar e também para apagar as mensagens. Abreviar todas as palavras para não gastar tempo digitando me pareceu uma boa ideia. Anos atrás as pessoas faziam isso para gastar menos crédito em SMS enviados. Foi um momento nostálgico. No segundo dia, enviar SMS continuou sendo uma tarefa difícil. Em alguns momentos as mensagens simplesmente não eram enviadas ou recebidas.

É claro que a ideia do celular é que a pessoa não fique o usando demais, mas a usabilidade do dispositivo é quase inexistente. Esse é um problema que deve ser resolvido nas próximas versões, mas, nessa, é bastante chato e atrapalha muito.

Apesar dos defeitos, a qualidade das ligações é ótima. Em várias conversas com pessoas diferentes, consegui ouvi-las muito bem e elas disseram que conseguiram me ouvir bem, também. Nesse quesito não senti muita diferença. Mas, ao tentar ligar para o número de um telefone fixo, foi que o problema começou: a pessoa do outro lado da linha não conseguia me escutar e tive de usar um telefone fixo (aparelho obsoleto, para dizer o mínimo). Acho que não tocava em um telefone fixo há mais de cinco anos.

É só um final de semana sem redes sociais…

O.k — respiro — é agora que começa a minha jornada de um final de semana sem nenhuma rede social. Não deve ser muito difícil, certo? Mas leve em conta que antes de ser repórter de Tecnologia e Ciência, eu trabalhava como social media na EXAME e que desde os meus 8 anos eu tinha um perfil em alguma delas (primeiro no Orkut, sempre supervisionada pela minha mãe, depois no MSN, Facebook, Tumblr, Instagram, Reddit, Twitter, Pinterest, TikTok… cite alguma rede social e veja se eu não a uso ou se eu já não a usei pelo menos uma vez). Antes disso, tive um celular da LG com tela verde que não tinha nem o jogo Snake. Ter nascido em 1997 tem dessas coisas. Vivi a explosão do uso da tecnologia, mas, durante minha infância e adolescência, os celulares não eram nem metade do que são agora.

E é esse o ponto positivo do Light Phone. Ele não parece um gadget obsoleto vindo de outra década (tipo um Nokia tijolão), mas sim um celular com a ideia de tornar o dia a dia menos complicado, como uma alternativa para quando o usuário precisa “correr no parque” ou simplesmente não quer ficar andando por aí com seu smartphone — e é o que ele cumpre com bastante veracidade. Além de, é claro, ser pequeno o suficiente para caber em seu bolso (outra promessa cumprida).  O Light Phone II é menor que um iPhone 5s (12,3 cm de altura) e, obviamente, menor também que um iPhone 8 Plus (que mede 15,8 centímetros de altura).

Ficar sem redes sociais não foi tão complicado quanto ficar sem WhatsApp (a pior parte nos dias atuais, acredite). Como citado no item acima, enviar e receber mensagens no Light Phone é complicado e em um certo ponto eu simplesmente desisti de tentar me comunicar por SMS e passei o sábado inteiro lendo livros. Em um dia, finalizei Ascensão, do Stephen King, Hood Feminism, da Mikki Kendall e Sete breves lições de física, do Carlo Rovelli.

Foi interessante passar alguns dias sem sentir a necessidade de atualizar o feed do Instagram ou de ver vídeos no TikTok e me inteirar de tudo que acontece no mundo no Twitter, mas ao mesmo tempo deu uma sensação esquisita de FOMO (Fear of missing out, em inglês, ou, literalmente, “medo de perder algo”).

 Comparação entre Light Phone, iPhone 5S e iPhone 8 Plus

Comparação entre Light Phone, iPhone 5S e iPhone 8 Plus (Tamires Vitorio/Exame)

Considerações finais

Em entrevista à EXAME, um dos fundadores da Light Phone, Kaiwei Tang, afirmou que “comprar um Light Phone não é a mesma coisa que investir em em modelos mais antigos por uma simples questão: os mais velhos têm apenas compatibilidade com a quase falecida rede 2G, enquanto o celular da marca está disponível com a tecnologia 4G” — sem planos, ainda, para um futuro da 5ª geração. “Outro ponto é que os celulares antigos são pesados e ninguém os usa mais. Não é uma opção válida. Estamos criando um celular que é moderno e oferece funções modernas, que já estamos acostumados, e que não tem nenhum anúncio, ou cor, ou animação, ou uma tela gigante. No fim, é só uma ferramenta útil”, garante.

Nisso não posso discordar: é realmente uma ferramenta bastante útil para tirar um tempo das redes sociais, prestar atenção somente em um filme ou série, ler livros sem se preocupar com o que fulano tuitou ou postou no Instagram — mas dá para fazer quase a mesma coisa deletando todas as redes sociais do smartphone por um tempo e mantendo só o essencial, ou desativando as notificações do seu smartphone, ou até mesmo comprando um celular dos anos 90 ou dos anos 2000. Se a sua intenção, no entanto, for fugir de vez de uma grande empresa (como a Apple ou a Samsung) então sim, é uma opção mais válida para você.

O custo do celular é de 299 dólares, cerca de 1.800 reais na cotação atual, sem levar em contas impostos de importação, e está disponível em duas cores (preto e cinza claro). Para os brasileiros, é possível comprar uma opção internacional compatível com chips das operadoras Vivo, Claro, TIM, mas não com chips da Oi. O celular até o momento é comercializado apenas em inglês.

Se metade dos usuários da startup usam o iPhone como seus celulares primários e o Light Phone como uma opção secundária para descompressão, é nessa estatística que me encaixo. Quem sabe eu não uso na próxima vez que eu quiser fugir dos milhares de grupos que criaram na quarentena.

Por Tamires Vitorio - Exame.com




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