Colunista Antônio Gomes



  • Como vi e participei do movimento militar de 1964

    21/06/2016

    Movimento militar ou golpe militar? Polêmico, o tema, pois, depende do ângulo de visão e entendimento de que escreve sobre ele, mas, sem ter a pretensão de ser historiador ou ativista político, narro o fato, como vi e senti, na época, integrando o Exército Brasileiro e, indiretamente, participando do referido movimento. Não vi o movimento como golpe militar, porque aquele movimento contou com o apoio de organizações e movimentos civis e da imprensa falada e escrita. Mas, vamos aos fatos que culminaram com minha efetiva participação no Movimento Revolucionário, com trabalhos participativos nos Estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas.

    Como afirmei num outro trabalho, na época, na condição de militar do Exército Brasileiro, na noite de 30 de março de 1964, encontrava-me, dormindo na residência de meus pais, com os quais residia, na Rua Santo Antônio no Bairro Popular, na cidade de Santa Rita, quando pela madrugada, minha saudosa mãe, ouvindo as transmissões Radiofônica, me despertava dizendo-me: “Meu filho, a situação política do Brasil está tão ruim, que há muitas horas, ouço o rádio falando que vai haver um golpe ou coisa parecida.”. Respondi-lhe, que ela estava impressionada com propagandas subversivas radiofônicas, mas que nada daquilo era verdade e que ela fosse dormir, que o Brasil estava em paz”. Afirmei também que, naquela mesma noite, cerca de meia hora após o aviso de minha mãe, uma sirene, tocou na frente da residência e, de logo, verifiquei que trata-se de uma viatura “jipe” do RI, que estava recolhendo os militares que não pernoitaram no quartel, o qual, havia entrado em regime de rigorosa prontidão.

    O movimento de março não se restringiu a um levante militar, como procuram demonstrar “os historiadores de hoje”, que querendo incutir aos mais novos e menos avisados, que tudo não passou de um “golpe militar”, sem no entanto, esclarecer o como e o porque da deflagração do movimento militar. Eles por conveniência, não falam, mas, na verdade, o Movimento Revolucionário, se motivou na agitação das massas em torno de um programa de reformas socializantes que infundia o temor de comunicação, porque as reformas parecia a solução para a crise, mas a maneira de as conduzir e o sentido que teriam provocado aquela reação. Esses historiadores defendem a ideia de que aquele movimento, não deve ser considerado como exclusivamente militar, sendo, na verdade, para eles, um golpe civil-militar, uma vez que, houve apoio por parte de segmentos importantes da sociedade tais como, os grandes proprietários rurais, a burguesia industrial paulista, uma grande parte das classes médias urbanas e o setor conservador e anticomunista da Igreja Católica (na época majoritário dentro da Igreja) que promoveu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, realizada poucos dias antes do golpe, em 19 de março de 1964.

    Não demonstram que o movimento que eles denominam “golpe militar de 1964”, foi amplamente apoiado por órgão de imprensa (Globo, Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Tribunal da Imprensa, etc.), e que foi o comício organizado por Leonel Brizola e João Goulart, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, o que serviu como estopim para o Movimento Militar, visto que naquele comício, segundo os seus organizadores, seriam anunciadas as reformas que mudariam o Brasil, tais como reforma agrária e a nacionalização de refinarias estrangeiras. Eles por conveniência, não falam, mas, na verdade, o Movimento Revolucionário, se motivou na agitação das massas em torno de um programa de reformas socializantes que infundia o temor de comunicação. Porque as reformas era a solução para a crise, mas a maneira de as conduzir e o sentido que teriam, provocou a reação.

    Do meu ponto de vista, essa crise teve como traço fundamental, a separação cada vez maior entre a nação e sua representação, que gerou os episódios dramáticos, liderados por grupos reacionários que, como algumas organizações hoje, passaram a exigir do governo, uma série de reivindicações e reformas que para serem implementadas, tinham de ater-se a preceitos constitucionais que foram, na época, forçosamente, suprimidos ou alterados por força das circunstâncias, depois de 1964. É que, para agitarem os movimentos, surgiram as Centrais Sindicais, o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP), que mobilizavam os empregados e trabalhadores urbanas (bancários, marinheiros, ferroviários, marítimos, estudantes e professores universitários) e os trabalhadores rurais, (Camponeses, trabalhadores nas usinas de açúcar e outras categorias de agricultores), que com suas constantes greves paralisavam o campo, a indústria, o comércio e as instituições e repartições públicas, especialmente as escolas e universidades, causando transtornos e revolta dos que efetivamente, queriam trabalhar e estudar.

    Começou-se a falar nas reformas de bases, e o Presidente da República de então, o Sr. João Belchior Marques Goulart, sem apoio no meio militar, porém, pensando em manter-se no Poder, acostou-se aos defensores dessas reformas, a qual, tinha como incentivador principal o seu cunhado Leonel Brizola, que promoveram, juntamente com os marinheiros sublevados, programaram e realizaram o “comício das reformas”, o que provocou a eclosão do Movimento Militar, antecipado pelos Generais Mourão Filho e Luiz Carlos Guedes, comandantes de grande unidades sediadas em Minas Gerais. É, foi de Minas e não do eixo Rio São Paulo, que eclodiu o movimento revolucionário de 31 de março de 1964. Como hoje, os então governistas, depois oposicionista, de logo, taxaram o movimento como golpe, mas ao meu ver, foi um movimento que ocorreu pacificamente, visto que, a falta de reação do governo e dos grupos que lhe davam apoio foi notável e até porque, mesmo alguns querendo, não se conseguiu articular os militares legalistas, como também fracassou uma greve geral proposta pelo Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) em apoio ao governo.

    O movimento militar, foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira, representadas pelo empresariado, da imprensa, pelos proprietários rurais, pela Igreja católica, por vários governadores de estados, importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, Ademar de Barros, de São Paulo) e inclusive e até, o da Paraíba, na época Pedro Moreno Gondim, devendo se reconhecer que, posteriormente, por motivos políticos e por discordarem do movimento, visto que, com exceção do Governador da Paraíba, os demais, apoiaram o movimento, simplesmente pensando em depois, tornarem-se presidente da república, foram todos cassados pelo regime militar e tiveram os direitos políticos suspensos por dez anos. Como se vê, o regime não puniu só os que não o apoiaram, mas, também, quem os apoiou, não com o objetivo de restaurar a democracia, a hierarquia e a hierarquia nas Forças Armadas, mas, com intenções outras. Contudo, constato que o “famigerado, para uns”, golpe militar, foi quem mais contribuiu para com a reforma agrária, com a criação de núcleos agrários ao longo da Transamazônica e, no que diz respeito a legislação, o “Estatuto da Terra”, ainda em vigor, que regula os conflitos agrários no País.

    Hoje, decorrido tantos anos, constato, que as reformas preconizadas, apesar de tão discutidas e decantadas, até, mesmo a “Reforma Agrária”, que tornou-se bandeira de luta tão defendida pelo Partido dos Trabalhadores, mesmo depois de ter o Partido, passados 13 anos no Poder Central e com exceção do último ano da Presidente Dilma, com maioria no parlamento até agora não se efetivaram.

    Antônio Gomes de Oliveira – Juiz de Direito aposentado