Colunista Jofre Garcia



  • A VOZ DO CLAMA NO DESERTO

    16/06/2016

    João nasceu numa época de sucessivas crises nacionais e intenso drama familiar.

    Naquela época, seu país suportava o jugo da dominação estrangeira, ocupava apenas uma estreita faixa de terra em meio a uma concha de retalhos culturais. Seu povo gemia sob o peso dos pesados impostos e das brutalidades dos opressores. A religião de seu povo, também enfrentava uma crise profunda, pois aquela que tinha sido o elo de unidade nacional servia como palco de disputas internas. De um lado, grupelhos políticos, subservientes e acomodados. Do outro lado, perigosos e inflexíveis radicais religiosos que se julgavam os melhores homens vindos a terra, provocando a destruição de sua pátria.

    A corrupção espalhara-se por todas as camadas sociais e Deus silenciara a voz profética havia 400 anos.

    Difícil quadro para se ter esperança.

    Havia, também, um drama familiar que se desenrolara em meio a toda essa situação nacional. Zacarias, seu pai, já era um idoso. Isabel, sua mãe, além de avançada idade, carregava como elemento complicador da história, a esterilidade (Lucas 1.5-7), tragédia para uma mulher naquele tempo, naquela cultura, naquele povo.

    Para que João pudesse vir a existir somente uma intervenção divina daqu’Ele que É, o EU SOU (Exodo 3.14), o Deus dos impossíveis (Jeremias 32,27 / Lucas 1.37).

    Era preciso um milagre?

    E, assim, se deu...

    Zacarias ao exercer o ofício sacerdotal, quando por turno é sua vez de adentrar o recinto mais sagrado no grande Templo de Jerusalém, o Senhor envia seu anjo Gabriel para lhe dar as boas novas de grande alegria: seria pai!

    Mas, eram tantas as limitações humanas, eram infindas as dúvidas devidos os anos de labor e tristeza, e, era tão maravilhoso o que se lhe anunciava que Zacarias temeu acreditar. Por causa disso, foi punido: perdeu a voz até que o menino nascesse.

    E assim se deu...

    Sob os auspícios das antigas profecias e pela intervenção divina, o pequeno João nasce, para a intensa alegria de seu pai e restauração feliz de sua mãe. Não será um menino qualquer, está marcado pelo mandato do Senhor, cheio do Espírito Santo ainda no ventre materno, investido da máxima honra de preceder o Messias, o Salvador do mundo.

     João cresce em graça e conhecimento. Movido pelo Espírito do Senhor inaugura seu ministério do modo mais característico dos grandes profetas de Israel: com denúncia social, chamada ao arrependimento e alerta quanto ao castigo divino. Logo, poderosos inimigos constrangidos com sua mensagem urdem tramas palacianas e lhe pediriam a cabeça.

    Tudo em João era uma mensagem divina, tudo nele é significativo.

    Sua figura, um tanto quanto esdrúxula para os padrões ritualísticos: “Usava roupa de pelos de camelo e cinto de couro”, denunciava que as vestes sacerdotais estavam manchadas pela corrupção, não sendo mais dignas do que representava. Sua comida: “gafanhoto e mel silvestre”, identificava-o com o povo marginalizado, esquecido e sempre usado por aqueles que detinham o poder. Seu lugar de habitação e ministério: “pregando no deserto”, era um alerta quanto aos desvios que a religião havia tomado, e Deus, não mais reconhecia aquele Templo como lugar de manifestação do transcendente de sua presença.

    João não proclamava suas verdades nem suas próprias palavras. Como um arauto e porta-voz do Rei, ele era a voz do que clamava no deserto: Deus! Preparava o caminho para a vinda daqu’Ele pelo qual o mundo veio a existir. Ele enfrentou os poderosos da terra denunciando o comportamento inapropriado para quem governava e representava o povo. Exortou os fariseus a produzirem frutos dignos de arrependimento, demonstrando a inutilidade do exclusivismo xenófobo dos judeus e a falácia de uma religião meramente ritual. Bem como repreendeu o suborno de quem detém qualquer autoridade.

    Seu ministério, também foi marcado por momentos singulares e extremamente importantes para a história do cristianismo. Coube a João anunciar a vinda de Jesus, assim como batizar o Cristo, sendo testemunha ocular da manifestação da Trindade (João 1.32). Porém, assim como seu pai, diante da pressão, do estresse e da solidão, quando foi encarcerado, comissionou seus discípulos para saber de Jesus se o Cristo era vindo ou haverá de vir outro (Lucas 7.20), e teve como resposta o cumprimento das profecias.

    E João foi morto no cárcere! Decapitado como pagamento por uma dança. Sem festa, sem alaridos nem coloridos, assassinaram aquele de quem Jesus testemunhou: “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João” (Mateus 11.11).

    Fico imaginando o que João não diria sobre as festas pagãs travestidas de cristianismo que alegam ser em sua homenagem. O que diria das bruxarias brancas (adivinhações e simpatias) tão populares nesses dias. Do culto ao Falo (pau de sebo), das fogueiras, instrumentos das crenças animistas europeias para afugentar os maus espíritos e das fartas comilanças, símbolo dos ciclos naturais de fertilidades.

    João, o Batista, com certeza não seria uma boa companhia para as festas “juninas” (em honra a deusa Juno). Não veria sentido para essas práticas. Elas, pouco ou nada têm haver com aquele que insistia em dizer: “Importa que Ele (Jesus) cresça e eu diminua”. (João 3.30)

    A voz do clama no deserto ainda é ouvida, ecoa pelos séculos, advertindo, exortando, ensinando: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (João 1.29).

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    Jofre Garcia Luna

    Formação:

    Teologia pela FATEN (Faculdade Integrada de Teologia)

    Teologia Sistemática pelo IBBB (Instituto Bíblico Betel Brasileiro)

    Pós-Graduação em Ciência da Religião - FATEN

    Graduando em Direito – UEPB

    Radialista Profissional – STERT -PB

    Presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil – Guarabira - PB

    Servindo como Pastor na Igreja Presbiteriana de Solânea – PB

    Secretário do CONPLESOL – (Conselho de Pastores e Líderes Evangélicos de Solânea)

    E-mail: presbiterojofre@gmail.com