Colunista Ednaldo Santos



  • Quer ser cacique, José?

    26/09/2015

    Neste ano seremos quase duzentos milhões de brasileiros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A situação socioeconômica do país está mal. No cenário político, predomina a arenga pelo poder e a opinião pública pouco tem contribuído para por ordem na casa. Lembremo-nos de Drummond de Andrade: “E agora, José?”.

    José Guilhardo de Castro, ex-vice-prefeito de Pilões-PB, expôs sua opinião em seu perfil no Facebook:

    O Brasil que nos resta: Uma presidente acusada de ter tido sua campanha borrifada com recursos roubados da Petrobras; os presidentes do Senado e da Câmara Federal ameaçados de serem denunciados à Justiça por corrupção; e um presidente da Corte Superior de Justiça suspeito de advogar causas que não da Casa. O brasileiro não merece. (Setembro, 2015.)

    Esse posicionamento mostra uma das formas de sustentação da insegurança política e jurídica vivenciada. Trata-se de um momento delicado, pois esse caos favorece a aparição de aberrações como, por exemplo, a proposta irresponsável e apaixonada de uma nova Constituinte.

    José Murilo de Carvalho, um dos mais respeitados historiadores do Brasil, afirma que nosso país é “ciclotímico”, viciado em “auto-sabotagem”, e que aqui “Um governo destrói o que o outro fez. A consequência é descontinuidade, mau governo, frustração.” Defende que:

    É hora de muita sensatez por parte das lideranças, sobretudo da oposição. Apoiar o impeachment não é sensato nem eficaz, só vai dar motivo de acusações de golpismo, embora em ele seja iniciativa legítima e legal já tentada pelo PT. Mas o impeachment tem forte dimensão política, sua oportunidade depende de ampla demanda social. Não creio que a conjuntura esteja madura para ele. É adequado e justo que a presidente eleita seja condenada a descascar o abacaxi que plantou. Resta agora ver o que dirão as ruas. [...] Há um vácuo, sempre perigoso quando se trata do exercício do poder. A presidente recém-reeleita não tem base parlamentar sólida para fazer as reformas que renegou na campanha e agora se vê forçada a levar adiante e nem mesmo [conta com] o poio decidido da ala lulista do PT. Perdeu força e credibilidade. A situação é de extrema delicadeza e exige muita capacidade de negociação, produto escasso no mercado político. (http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/03/1602966-no-brasil-um-governo-destroi-o-que-o-outro-fez-diz-historiador.shtml ).

    A síntese colocada reforça a ideia de que carecemos de líderes. A sensação é que, como disse um amigo da universidade, o simples fato de alguém sair à rua e gritar já faz com que o ousado tenha boas chances de ser chamado à liderança. Nesse cenário desgovernado, em que a sede pelo poder é insaciável e a peleja em Brasília é de foice amolada, os poucos representantes políticos que honram seu ofício e suas calças contam com pouco apoio. E a gente, na hora de votar, não tem opção dentre as opções que sorriem na urna.

    O caso é grave. O (Des)Governo gosta de números, mas conta errado. Parece desconhecer o método quantitativo-qualitativo. É por isso que certas as questões relativas à educação confundem-se com problemas de segurança pública, e professor passa a ser visto como agente de segurança pública. A equação não bate.

    Como se não bastasse, determinado segmento cego e burro da opinião pública manga da própria desgraça ao contentar-se em ajudar a fazer da Política uma piada. O melhor exemplo disso é a saudação que a “mulher sapiens” fez à mandioca. Pense em um tema nobre para preocuparmo-nos em tempos de crise! Só perde para a sexualidade de Dilma. É notório que a Presidente não sabe mais que rumo dar ao país, mas zombar não é a atitude mais construtiva. Não devemos perder a fé na Política. Ela é um meio nobre para a conciliação entre os interesses individuais e coletivos, das minorias e das maiorias, para atendimento das demandas sociais de forma isonômica.

    Não se sabe o que é pior: sentar e esperar a fase mais amena do ciclo ou ficar à espera de um milagre com tantos salvadores da pátria querendo poder. Como romper esse ciclo imediatista de construção e desconstrução? Ei, a algazarra está correndo solta na taba. Quer ser cacique, José?

    Ednaldo dos Santos, crescido em Solânea-PB, natural de Alagoa Grande-PB, é graduado em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Gamado pelo Direito, especialmente Direito Civil, trabalhou voluntariamente no Ministério Público da Paraíba e atuou como Estagiário e Conciliador no Tribunal de Justiça da Paraíba. e-mail: ednaldojmo@hotmail.com