Colunista Alex Xavier



  • ESCOLHAS

    09/09/2015

     “Sobre tudo o que se deve guardar.

    guarda o teu coração,

    porque dele procedem as fontes da vida”

    Provérbios 4:23

     

                    Apesar ter sido educado em um ambiente católico. Não me considero como tal. É claro que uma coisa sempre fica. Hoje, por exemplo, lembrei-me da minha Primeira Eucaristia. Uma lembrança tão terna e benevolente. A lembrança me trouxe conforto para o espírito porque me senti embalado por Jesus. Sim. Sou cristão. Mas prefiro não ser católico, espírita, protestante, evangélico ou pertencer a qualquer outro credo. Recebo algumas sanções pela minha escolha. Na medida em que fazemos escolhas as recebemos. Ver Cristo como vejo também me trazem sanções. Tanto os religiosos como os ateus me condenam. Porém para além disso tenho o aconchego do abraço de familiares e amigos. E que me basta.

                Ouvi muitas palavras de Pe. Fábio. Mesmo não sendo católico. Sinto saudade das palavras do Cristo Por Demais Humano dele. Sinto muito quando as religiões teimam em condenar, condenar e condenar. Não agindo como Cristo diante da Samaritana, da Mulher Adúltera, na Parábola do Filho Pródigo e quando o Pastor Retorna Para Pegar a Única Ovelha Perdida. E as religiões terminam em trocar o Verdadeiro Espírito por uma disputa vã pelo poder.

                Respeito as escolhas dos outros, mas prefiro ser contra atos extremistas. Não posso lhe condenar porque você é de Samaria. Não posso atirar pedras porque você pecou. Preciso abraçar quem retorna a casa do Pai e quem não retorna sinto desejo de ir buscar. Talvez por isso seja contra medidas drásticas: não quero mais prisões, quero Educação; não quero pena de morte, exijo Vida; não vim para condenar, mas para Libertar; não quero queimar livros e apagar nomes, mas que sejam escritos muito mais, também que outros nomes surjam. Esta vida é pouca para mim diante da Eternidade. E sou por demais imperfeito para não ver nobreza no exemplo de Cristo.

                Desculpe-me você que segue uma religião qualquer. Mas estou farto de semideuses, como Pessoa. Estou farto de viver pela metade, como na música dos Titãs. De usar mil desculpas para não me olhar no espelho (isso me lembra Clarisse). Gosto do mundo em preto e branco nos filmes, nas fotografias, no nanquim. Mas quero mais cor na vida real (isso me traz Adélia Prado quando diz que o pai pintou a casa de alaranjado brilhante). Eu encontro um conforto sem nome no caminho que escolhi. E me sinto completamente feliz como Cecília.

                Estou distante dos meus, no exílio que sozinho escolhi. Mas minhas raízes me mantêm erguido. Não me falta Água e eu agradeço profundamente a Jesus por isto. Vi tanta água escorrer no coração de Roma. Vi tantas ruínas na Cidade Eterna. Vi o Coliseu tal qual eu deixei nos livros. Toquei no mármore que foi lapidado antes da minha terra se chamar Brasil. E me vem o hino que cantei quando era criança:


    "A videira deu as uvas;

    Que beleza a parreira está!
    Lá do céu caíram as chuvas,
    o trigo brotou, que fartura dá!
    A uva deu o vinho
    E o trigo deu o pão.
    Aceita, Senhor, a oferta
    Que está sobre o altar: o trabalho do irmão.
    (Refrão)
    Transforma, Senhor, esses dons que nos destes em comunhão;
    Transforma o alimento do corpo em sustento da alma, da Salvação."
    ...
                Continuava o hino... Eu já não estava mais nem lá nem cá. E habitava os dois lugares no tempo.

                De onde vêm as lembranças? De que quarto escondido da memória elas saem? E por que se tornam tão presentes? 

    John Alex Xavier de Sousa

    Licenciatura e Bacharelado em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN (1993), Especialização em História da Cultura pela UFRN (1996), Mestrado em Ciências Sociais pela UFRN (1999) e Doutorado em Educação pela UFPB. Atualmente, fazendo o Pós-Doutorado em Educação, na Universidade do Minho – UMinho (Braga-PT). Foi professor substituto na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Lecionou no Curso de História, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN). Atualmente é professor do Departamento de Educação, da Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Campus III, Bananeiras. Tem experiência nas áreas de História, Sociologia, Antropologia e Educação.